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é ok dançar sozinho

  • marianaolisilva07
  • 18 de set. de 2023
  • 2 min de leitura

É tão estranho ser-se reduzido por alguém a uma única pessoa.”- Virginia Woolf


Tardes de verão sabem a já não saberes quem é que eu sou. A brisa da tarde corta o calor sufocante e eu sinto-me livre de memórias que já me amarraram. Guardo segredos que nunca quiseram saber para sentir que lhes tiro alguma coisa. A mim tiraram-me anos de vida por nunca me terem dito quem são. Procuro alguma coisa em todas as multidões, ainda não sei se sei o quê.


Já não é tristeza e acho que também já não é raiva. É um misto dos dois que é confuso e doloroso porque me doiem todas as coisas que não compreendo. Doiem-me as pessoas que não pude conhecer. Guardo o emprego novo e o mestrado em que entrei na esperança que lhes doa também. Procurei respostas e explicações em mim própria. Perguntei-me quanto esforço tinha feito e quanto esforço seria suficiente. Perdoei-me por me ter esforçado demais. Não há coisa no mundo tão boa que custe tanto. Não há coisa tão boa no mundo que valha eu me sentir pouca coisa.


Danço sozinha em todas as multidões.


Guardo para mim as conclusões que tiro porque nem essas quero que saibam. Aceitei tão pouco porque não esperava melhor. Aceitei tão pouco porque não me queria melhor. Deixei arrastar dores que podiam ter sido curtas, escolhi alongá-las como quem escolhe desfiar-se por quem não quer perder. Limitei-me a espaços que me eram curtos e pessoas em quem não cabia. Falei de quem era antes de ser tão pouco. Tentei procurar espaço em sítios onde nunca quiseram que eu tivesse lugar mas nem a versão que instrumentalizaram e moldaram da forma que queriam foi suficiente para ficarem.

Mas depois percebi: não me conhecem a parte que está feliz. Não me conhecem. A parte que foi deles nunca fui eu. Sou tantas outras que são suficientes e que sempre foram.


Estou a viver uma vida diferente que não conhecem numa cabeça em que me sinto mais confortável. E tu também.


Tento desculpar-me por todos os meses em que estive tão calada.


E para todas as multidões em que ainda te procuro eu grito que nunca mais me quero voltar a sentir assim.



ree

 
 
 

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