Já não existe em mim
- marianaolisilva07
- 3 de ago. de 2023
- 2 min de leitura
Receber fotografias faz-me sempre pensar sobre como passamos todos pelo mundo a olhá-lo por olhos tão diferentes. Resolver-se-ão, um dia, todos os conflitos de interesses mas não sem antes se chegar a um consenso sobre quem o vê da forma correta.
De há alguns meses, dos meus olhos ou da minha lente, chegaram-me fotografias que encapsulam o que a minha vida estava a ser. Na minha cabeça existem isoladamente e não precisam de nenhuma nota de roda-pé. E eu, que normalmente me dou tão bem com as palavras, acho que nunca me ensinaram nenhuma para o sentimento em que elas existem.
Os meus olhos viram muita coisa e o que eu recebo é uma escolha (pouco) ponderada daquilo que quis eternizar. Tenho a certeza que muitas delas alteraram o seu sentido no tempo que me separa a mim desta outra Mariana. Onde tenho a certeza que ela guardava tanta esperança eu vejo a ingenuidade que negava ter. Onde ela via beleza eu conto os meses que a dor durou e em quantos se estende. Mas em todas elas eu me emociono com o que vi.
Encontro a continuidade nestes registos sem nunca a ter tentado assinalar. Encontro todos os sentimentos que sei que tive e vejo-os à minha frente quando achava que já não os percebia. E que contraditório é pensar o quão longe estou da pessoa que tirou estas fotografias e o quão perto elas me fazem sentir de mim própria.
Quero tanto bem à parte de mim que quer guardar o mar sempre que o vê porque tem o medo irracional que seja a última vez. A parte que sabe que as flores que apanho para mim própria e as fotografias que tenho de quem amo são a única constante na minha vida.
Agarro-as com força e guardo-as com carinho sabendo que por todas as pessoas que não ficaram há uma prova de como elas se pareciam pelos meus olhos. Todas elas me trazem recordações dos sentimentos que tive. Explicam-me as decisões que tomei sem ter de o pedir. Mostram-me uma normalidade que eu achava que não tinha.
E fui ficando eu.

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