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Carta de amor a Fevereiro

  • marianaolisilva07
  • 13 de mar. de 2024
  • 3 min de leitura

Fevereiro merece uma carta de amor.


As últimas semanas trouxeram os primeiros dias de chuva que me deixaram triste em muito tempo. Podia alegar seasonal depression mas contento-me com aceitar que estar em casa e ter de estar em casa são duas coisas muito diferentes na minha cabeça. A inutilidade a que me remeto sempre que estou cansada de ser eu própria é exaustiva- não me sei tratar tão bem como as pessoas de quem eu gosto me tratam.


Deixar que cuidassem de mim foi um desafio ao meu medo de perder a independência que me custou tanto a alcançar. O mês que passou foi uma amálgama de garrafas de água abertas e comida cortada pelas pessoas que amo.  Uma carrossel de situações em que não me deixaram fazer nada quando eu tinha tanta vontade de fazer alguma coisa.


Fevereiro foi um mês de descobrir coisas sobre mim e de ter conversas com pessoas que me entendem de uma forma que eu duvidava que alguém conseguisse. Somos sempre mais complexos e individuais na ideia que temos de nós mesmos.


Acordei às horas que quis e vi séries de conforto. Aceitei os dias em que não conseguia seguir a rotina que impus a mim própria. Desculpei-me por me tratar tão mal e ter tão pouca paciência para uma recuperação que seria inevitavelmente trabalhosa e demorada. Odiei todas as decisões que tomei e culpei os 20s pela forma que me senti. Lembrei-me de todas as coisas que queria cozinhar e não podia. Pensei no meu corpo pela primeira vez em anos como um conjunto de sistemas que trabalha para me manter viva e que não merece as vezes todas em que o odiei.  Aceitei que desta vez era ele que precisava de tempo e desacelarei como tantas vezes ele desacelarou para dar tempo aos meus pensamentos.  


Perguntei-me por que é que ainda sinto tanta coisa por coisas que já não são minhas há tanto tempo.  Encontrei paz em camas desfeitas e em aceitar que fizessem coisas por mim. Passei dias inteiros a pensar quem sou e quem quero ser. Tentei imaginar a minha vida daqui a quatro anos se me esforçasse por viver de uma forma que me preenchesse. Ouvi que seja o que for que eu escolher “o tempo vai passar na mesma”. Daqui a quatro anos vou ter vinte seis anos sejam quais forem as decisões que tomar.


Fevereiro foi um mês em que me senti tão mal e que em retrospetiva me deu tanta coisa. Deu-me uma compreensão da pessoa em que me posso tornar se passar menos tempo a odiar-me e trabalhar em conjunto com a minha cabeça. A minha existência não tem de ser sempre tão pesada quanto eu a torno. A vida pode ser mais do que uma vontade incontrolável de estar em todos os sítios onde não estou. Tenho tido poucos momentos tão cheios como numa esplanada com os meus amigos. Poucas coisas me deixam tão feliz como continuar a pedir uma água e um ice tea de pêssego.


Por isso fica aqui uma carta de amor ao início deste ano mas também a todas as pessoas que me deram os braços delas quando os meus me faltaram. Em forma de abraços ou de uma meia de leite que levaram até à marquise. Guardo e agradeço todos momentos em que, ao cuidaram de mim, me ensinaram a fazê-lo.


ree

 
 
 

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Feminista, entusiasta de estrelas e batatas fritas e leitora ávida excepto nos dias em que não estou. A acabar CC na FCSH.

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