já não peço nada mas ainda quero muita coisa
- marianaolisilva07
- 26 de dez. de 2023
- 2 min de leitura
2023 foi o ano em que aceitei que não me conheço.
Disse mais vezes do que aquelas que consigo contar que os 20s se calhar não são para mim e que todas as coisas parecem erradas pelo simples facto de estarem a acontecer. Que não sou a mesma pessoa que era o ano passado e que mesmo que tente muito não encontro uma continuação.
Imaginei formas de estragar tudo antes de existir alguma coisa. Ouvi que aquilo que acham que sou é demais para qualquer um. Que quando me descrevem a mim descrevem alguma coisa que se tolera mas que nunca se protege. Que lhes pertence mas que não os preocupa. Que ir embora é muito mais fácil do que ficar. E que comecei a acreditar e a ir embora também.
Percebi que não piso linha nenhuma no chão com medo que traga azar mas que desisti de pedir desejos porque já não sei se acredito na sorte. Que entre todas as coisas em que acredito guardo mais dúvidas do que certezas. Que o mundo é um mistério que eu nem sempre tenho vontade de perceber. Mas que odeio as coisas que não percebo.
Vi-me no meio de tanta gente com tantas certezas e questionei-me se a dúvida estava guardada só para mim. Tive saudades de verões que já não são os meus. As luzes continuaram a mudar de cores e nada me parece igual mas fui tentado procurar onde é que me vi pela última vez.
Tentei aceitar que o mundo continua a existir nos sítios onde eu não estou. Revoltei-me e apaziguei-me com a certeza de que o mundo vai continuar a existir quando um dia eu já não estiver. Passei tanto tempo sem ver a beleza dos momentos que se escondem nos segundos que agora os quero aproveitar a todos.
Escrevi cartas de amor para uma vida que já não é a minha mas de que tenho tantas saudades e que guardo como se ainda me pertencesse. Aceitei que posso continuar a amar aquilo que já não é meu. E que a saudade faz mais parte de quem eu sou do que a necessidade de que alguma coisa me pertença. Quero poucas coisas mais do que o sentimento de que tudo permanece. Se nada mudar pode ser que eu volte a saber quem sou.
Aprendi a guardar esperança nos céus cor de rosa e nos dias frios mas em que ainda há sol. Encontrei paz em camas desfeitas e em pequenos almoços feitos com calma. Percebi que os caminhos são melhores se não souber para onde vou e que há muita beleza em não ter medo de surpresas.
E que cada vez que digo que odeio o inverno tenho mais vontade de cá continuar.

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