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Epa, olhem, escrevi umas merdas

  • marianaolisilva07
  • 31 de mai. de 2023
  • 2 min de leitura

Atualizado: 8 de jun. de 2023

Dentro da complexidade do indivíduo perco-me a saber que não me compreendo nem a metade. Estendo-me a pensar o que sou e em quem são os outros. Deixo passar as horas a pensar e a olhar quem amo na esperança ingénua de os perceber melhor quando nem eles se compreendem. Faço promessas vagas de que há anos que abandonei a ingenuidade mas talvez ande de mãos dadas com ela. Guardo comigo uma visão idílica e utópica do mundo. Repito-me enquanto me tento lembrar que o posso fazer. Releio o meu livro preferido uma e outra vez a tentar encontrar respostas para o que é ser uma pessoa normal. Procuro nas entrelinhas a validação que não encontro em mim própria. Desapareço em complexos que tento eliminar a quem quero bem. Perco-me nas inseguranças e nas dúvidas. Ignoro o fim de ciclos com medo de não os saber processar. Aceito-me pouco no meio do caos em que abraço todos os outros. Guardo poemas e textos que dizem o que eu não sei dizer. Não sei ou não consigo? Não consigo ou não quero? E se tudo o que souber escrever forem frases soltas sobre pessoas que amo? E se tudo o que souber escrever para mim forem perguntas?


Nego-me nas descrições que fazem sobre mim sem me saber descrever a mim própria. Revejo fotografias antigas em que já não reconheço uma continuidade. Temo a descontinuidade de ser eu mesma. Afasto-me de quem me ama com listas intermináveis de mensagens por responder e histórias por contar com medo de que não o façam se me ouvirem. Não gosto de mim o suficiente para pensar que alguém o possa fazer. Não dou espaço para que me amem da forma que gostava que o fizessem.

Imagino projetos e projeto ideias em que me perderia se vivesse num corpo em que estivesse mais confortável. Conforto-me com o permanente desconforto de existir. Acrescento vírgulas onde idealmente estariam pontos finais e não finalizo nada para que permaneça a sensação constante de falso controlo. Procuro versões de mim mesma em que ainda exista. Analiso-me enquanto pessoa que já não sou. Temo a descontinuidade. Repito-me.


Conforto os outros com certezas que não tenho. Repenso sentimentos que não percebo. Aceito os outros como gostava de me aceitar. Durmo pouco e como mal. Maltrato o espaço a que chamo casa e onde tenho dificuldade de achar um corpo. Chamo-me sem nunca conseguir chegar ao ponto de encontro. Olho para as mudanças com desprezo e abandono a curiosidade e a esperança que sei que já tive. Gasto-me na cidade que me preenche com saudades incapacitantes do pedaço de mundo onde me encontrei. Se calhar fiquei por lá. Se calhar nunca saí daqui. Sublinho por que é que tudo o que faço não é suficiente. Fascino-me com momentos curtos da vida para ter a certeza que ainda cá estou.


Epa olhem, escrevi umas merdas.

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Feminista, entusiasta de estrelas e batatas fritas e leitora ávida excepto nos dias em que não estou. A acabar CC na FCSH.

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